28 de jul. de 2007

Furiosas Fábulas, oh, Fábulas Furiosas!

Unção & Empalação

Num dia, num abençoado dia, os cristãos mataram o último bárbaro com fé alienígena a sua e oraram em infante alegria.

pula
No entanto, quando o ardor fraquejou e o silvo do silêncio dominou, eles se entreolharam.

Ainda cobertos de sangue e restos de ossos e carne humana, descobriram que, apesar de irem irmanados à guerra em nome do mesmo deus do amor e do perdão, eles também eram diferentes entre si.
Detalhes. Os detalhes que fendem as falanges.
Então, eles mais uma vez odiaram.
Por pequenas querelas eles se odiaram grandiosamente e foram à guerra novamente.
Agora entre si, aliviados por escaparem da falta de um propósito vital, encontraram-se entre as ravinas para manufaturar a morte em escala mais uma vez colossal, certos de quem subisse na colina da calamidade e fincasse o estandarte seria o favorito do Bendito.

pula
Entretanto, tal foi o esmero dos empreiteiros da pilha cadavérica que ela se ergueu tão aos céus. E como Babel desmoronou. E todos quedaram matraqueando em uma só língua:
O lamento.
Nisso, quando todos os guerreiros de Deus estavam ao chão, já rendidos ao Rei Verme ou clamando por auxílio a aquilo que já estava perdido, os ímpios saíram dos esconderijos.
Os ateus, escondidos nas secretas câmaras intestinas do planeta, quando não ouviram mais as músicas marciais abriram suas escotilhas e foram tomar o que lhes pertencia.
Quando todos os crentes marcharam, os descrentes se refugiaram, certos de já antever o final do melodrama.
E sob o solo, sob a luz das lanternas e das velas, fabricaram longas lanças de afiadas lâminas.
pula
Ao retomar o dia, erguem grandes fogueiras para os mortos à noite, onde sobre a lenha defunta a cremar, os céticos arremessam os fieis que ainda insistem respirar.
Espetam os feridos sem descriminação dando a morte como cura para dor e alívio para loucura.
Perfuram sem preconceitos, fazendo isso sem desprezo, na verdade a fatalidade e por profundo respeito, dando ao cristão a concretização de seu desejo, de seu prêmio:
Céu, purgatório ou inferno.
(E reencarnação, para os espíritas positivistas, porque, não?)
Quando tudo terminou, quando empalados nas pontas de seus compridos dardos ao fogo foram lançados
pula
pula
o último soldado furioso, a última matrona magoada, o último sacerdote desgostoso, a última virgem não violada, a última criança batizada e não persistiu mais nada, além de cinzas e restos de brasas, os ímpios tiveram a certeza que podiam começar o mundo de novo sem nada de tolo servindo de estorvo, pois, enfim, finda estava sua conspiração pela felicidade, ofertando a cada homem seu tipo predileto de eternidade.

pula

Aos espiritulalistas, o eterno que há de advir, esperando por eles no mundo porvir.


E aos materialistas, o eterno que agora na vilã Terra pagã hão de construir.

3 comentários:

Paulo Castro disse...

Jean:
Uma das melhores coisas suas que já li. As fotos estão perfeitas com os momentos. Digo não só do conteúdo, já chegamos nele, mas da segurança que perpassa a forma. Isso que pode irritar algum dementado das cruzes. Falar maldito, mas falar "malditamente" bem.
E sobre o conteúdo, gostaria só de te dar uma dica: Conhece o "agente" Michael Onfray ? Leia-o. Recomendo tudo dele, particularmente, "Tratado de Ateologia".
Só não coloquei entre meus cinco lá no jogo por uma discrição quanto ao que é imensamente bom.
Abração.
Paulo.
http://vazamentosdevapores.blogspot.com

Anônimo disse...

Há algo de apocalíptico nesse texto... É quase uma profecia.
;)

bjos

Anônimo disse...

Caos. É como se fosse uma diarréia urbana, intestinos podres dos satãs que emitem gases fatais gerando explosões apocaliptícas somente por terem bebido vinhos em taças sagradas dos deuses fracassados.
Creio que seja isso.
Abraço
Akio