Unção & Empalação
Num dia, num abençoado dia, os cristãos mataram o último bárbaro com fé alienígena a sua e oraram em infante alegria.
pula

No entanto, quando o ardor fraquejou e o silvo do silêncio dominou, eles se entreolharam.
Ainda cobertos de sangue e restos de ossos e carne humana, descobriram que, apesar de irem irmanados à guerra em nome do mesmo deus do amor e do perdão, eles também eram diferentes entre si.
Detalhes. Os detalhes que fendem as falanges.
Então, eles mais uma vez odiaram.
Por pequenas querelas eles se odiaram grandiosamente e foram à guerra novamente.
Agora entre si, aliviados por escaparem da falta de um propósito vital, encontraram-se entre as ravinas para manufaturar a morte em escala mais uma vez colossal, certos de quem subisse na colina da calamidade e fincasse o estandarte seria o favorito do Bendito.
pula

Entretanto, tal foi o esmero dos empreiteiros da pilha cadavérica que ela se ergueu tão aos céus. E como Babel desmoronou. E todos quedaram matraqueando em uma só língua:
O lamento.
Nisso, quando todos os guerreiros de Deus estavam ao chão, já rendidos ao Rei Verme ou clamando por auxílio a aquilo que já estava perdido, os ímpios saíram dos esconderijos.
Os ateus, escondidos nas secretas câmaras intestinas do planeta, quando não ouviram mais as músicas marciais abriram suas escotilhas e foram tomar o que lhes pertencia.
Quando todos os crentes marcharam, os descrentes se refugiaram, certos de já antever o final do melodrama.
O lamento.
Nisso, quando todos os guerreiros de Deus estavam ao chão, já rendidos ao Rei Verme ou clamando por auxílio a aquilo que já estava perdido, os ímpios saíram dos esconderijos.
Os ateus, escondidos nas secretas câmaras intestinas do planeta, quando não ouviram mais as músicas marciais abriram suas escotilhas e foram tomar o que lhes pertencia.
Quando todos os crentes marcharam, os descrentes se refugiaram, certos de já antever o final do melodrama.
E sob o solo, sob a luz das lanternas e das velas, fabricaram longas lanças de afiadas lâminas.
pula
Ao retomar o dia, erguem grandes fogueiras para os mortos à noite, onde sobre a lenha defunta a cremar, os céticos arremessam os fieis que ainda insistem respirar.
Espetam os feridos sem descriminação dando a morte como cura para dor e alívio para loucura.
Perfuram sem preconceitos, fazendo isso sem desprezo, na verdade a fatalidade e por profundo respeito, dando ao cristão a concretização de seu desejo, de seu prêmio:
Céu, purgatório ou inferno.
(E reencarnação, para os espíritas positivistas, porque, não?)

Ao retomar o dia, erguem grandes fogueiras para os mortos à noite, onde sobre a lenha defunta a cremar, os céticos arremessam os fieis que ainda insistem respirar.
Espetam os feridos sem descriminação dando a morte como cura para dor e alívio para loucura.
Perfuram sem preconceitos, fazendo isso sem desprezo, na verdade a fatalidade e por profundo respeito, dando ao cristão a concretização de seu desejo, de seu prêmio:
Céu, purgatório ou inferno.
(E reencarnação, para os espíritas positivistas, porque, não?)
Quando tudo terminou, quando empalados nas pontas de seus compridos dardos ao fogo foram lançados
pula

pula
o último soldado furioso, a última matrona magoada, o último sacerdote desgostoso, a última virgem não violada, a última criança batizada e não persistiu mais nada, além de cinzas e restos de brasas, os ímpios tiveram a certeza que podiam começar o mundo de novo sem nada de tolo servindo de estorvo, pois, enfim, finda estava sua conspiração pela felicidade, ofertando a cada homem seu tipo predileto de eternidade.

E aos materialistas, o eterno que agora na vilã Terra pagã hão de construir.